quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Escravos de nós

Sempre que digo que tenho três filhos as pessoas me perguntam: mas agora tu fez ligadura? Claro que não. E não que eu queira ter mais um bebezinho aqui em casa, mas a impossibilidade de poder fazer esse tipo de escolha livremente me deixa agoniada.
Hoje entendo a escravidão, no sentido mais amplo da palavra, como a impossibilidade de escolha. Se não tenho mais filhos é porque não quero e não porque não posso mais ter, entende?
As pessoas normalmente seguem sua vida sem fazer alguns tipos de escolhas e se tornam escravas do cotidiano. Fazer somente o que é possível (se julgar impossível ou improvável de acontecer ela nem tenta). Isso é escravidão pura!
Permanecer a vida toda no mesmo emprego, mesmo detestando o que faz, pensando que "é a profissão que dá dinheiro" ou porque foi "pra isso que estudei"...escravidão!
Pensar dá trabalho, escolher entre algumas coisas também dá trabalho, e somos cada dia mais, gerações preguiçosas, que não se dá ao trabalho de pensar, de medir, de planejar e mudar no meio do caminho, sem culpa, mas ter a liberdade de escolher o rumo da sua vida.
Ser diferente do protocolo, do que a maioria faz e pensa, dá muito trabalho, causa muita inquietação, mas sinceramente, não dá pra ser diferente.
Escolher a única opção não é escolha, é seguir o que se tem, é viver engessado, e a maioria das pessoas nem mesmo questiona isso. Segue-se o "deixa a vida me levar" e ligada no piloto automático a vida vai passando.
Meu filho mais velho veio me questionar se quando eu era criança gostava dos garotos "populares" (ele tem só seis anos e já está preocupado em seguir padrões para ser aceito em grupo). Disse a ele que não e tentei mostrar o que eram os tais "populares" e o quanto fazer esse personagem devia ser chato para eles, pois essas pessoas nunca saberiam se os outros as seguiam por parecer ser algo ou por ser quem realmente é, um típico exemplo de escravidão que com esse questionamento do meu pequeno me fez ver que isso começa bem cedo, pessoas que precisam parecer ser algo para ser aceita pelo grupo e se tornar popular.
O problema é que isso segue pra vida toda, fazemos o que todo mundo faz, usamos o que todo mundo usa, pensamos o que todo mundo pensa... Somos uma humanidade de maioria sem personalidade.
Quem filosofa, quem questiona, quem se livra da escravidão e é quem quer ser?
Quem mantém na vida a possibilidade de escolha?
Nunca fui uma guria "popular", sempre tive minhas idéias, convicções e cara limpa. E sem ser clichê, mas já passou da hora de pensarmos e agirmos bem mais "fora da caixa".


2 comentários:

  1. Bem isto mesmo Adri!! Assim como você nunca fui popular... mas com idéias e convicções próprias.... muitas vezes ate mesmo deixada de lado pelo "grupo"... mas prefiro continuar sendo "fora da caixa"... rsrsrs

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  2. Perfeito Adri. Estamos em sintonia. Justamente o que escrevi essa semana sobre mediocracia. As pessoas não tem noção do quanto são niveladas por baixo e para baixo, sempre sendo podadas e castradas. E quando alguém pensa fora da caixa é olhado atravessado, estranho e de mau jeito. Chega de conformismos e normas sociais engessadas.
    Agora é hora de fomentarmos o pensamento por si. Alimentemos não com peixe e sim com coragem e ferramentas
    :)
    Show de bola a reflexão, parabéns

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